Lua e Neptuno



Tremo nas ruas frias despidas de ti.
O oceano que nos banha alma do naufrágio de amor é tão fundo como feroz.
Levou-nos para dentro do seu coração húmido e afoga-nos nas lágrimas com abraços de sal e promessas de salvação.
Um dia eu vi te nos olhos do breu e nas borras lamacentas da chávena de café.
E disseram-me , ele chora.
E eu fugi ruas a fora, adentrando o vazio da incompreensão , e gritei aos ventos que trouxessem a maior tempestade ! Que estourasse a intempérie mais violenta nos sete mares !
Nenhum Deus poderia calar ouvidos quando me tornei também eu no poder das correntes adormecidas.
E do meu corpo jorraram as águas de todo e qualquer sentimento querendo limpar o sangue e as tormentas deixadas nas minhas mãos.
Querendo retirar o teu corpo da cruz dos nossos pecados , salvar-te e redimir-nos no leito da minha fé.
Não podia ter-te inanimado nos braços do meu desespero , não quando o teu corpo e a tua alma ainda se debatiam pela chance de viver.
A chibatada dos céus abateu-se perante a minha insurgência e recusa em deixar o mar levar-te.
Pedi por perdão e jurei não lutar mais contra as leis do tempo.
Jurei entregar-me a missão maior se apenas te trouxessem de volta ao mundo dos Homens e te acobertassem de braços quentes e aventuras esplêndidas e te apagassem da memória todos os traços de mim .
Reanimei-te  na minha despedida.
E caminho nas ruas paralelas de um mundo onde não existes e me transbordo de estrelas que se apagam , horas avariadas e rostos trocados .
Tremo e desfaço-me de volta para ondulação dos sentidos que me ligam ao absoluto.
Crendo no escuros olhos da noite que tudo eventualmente passará .
E que também me esquecerei , desvanecida em lençóis de água, de ti.










Sarah Moustafa







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