Efeito Borboleta




Apanhei-o a olhar para mim e demorei uns segundos, mais que o esperado , a desviar aqueles olhos dos meus.
Algo controlou a incontrolável vontade de fugir do lugar que sabia estares a vasculhar.
Demorei a entender que esse algo fui eu mesma, a despertar para a curiosidade da tua vontade.
Quererem me pelo que escolho mostrar é natural.
O que não é, é desejarem- me pelo oposto do que escolho transparecer.
Daquele momento em diante o enigma foi me infiel, passou para o teu lado.
E as dúvidas ... encontraram um refúgio nas tuas certezas.

Não olhei só para ela, via-a.
Penetrei-a.
Invadia-a.
Todo o halo da sua imagem transbordada a um suspenso momento, ascendia deliciosa ao desbravar de uma intriga, tão nua e crua  que me paralisou na visão de uma mulher estranha,  familiar... magnética 
Havia um brilho intenso, tão tímido como poderoso, escondido na capa da noite de que se cobria para a disfarçar.
Mas estava lá e mais do que querer beber daquela luz , quis , sei la porquê, dar lhe a ela de beber de si mesma.
Puxei ousadamente a linha primordial do seu novelo. 
Sei que me apanhou e que a perturbei.
Confesso...Deu-me um gozo do caraças.

Tentei o meu melhor para me resguardar e acabei por ser um livro aberto.
Desfolhou-me indecifráveis páginas e leu tudo aquilo que nunca consegui
O pior é leu tudo, palavra por palavra, em voz alta .
É tramado ouvir aquilo que não sabemos que queremos ouvir.
Atormenta me.
Devasta-me e preenche-me de uma calma confessadamente intempestiva.
O sismo da tua fome abriu  fendas de um apetite adormecido.
Esquecido nas tatuagens de histórias desvanecidas na pele.
Prometi que só voltaria a entrar na teia destes domínios perigosos da paixão , quando os joelhos tremessem, as mãos suassem, o corpo se contorcesse de desejo e a mente ... essa totalmente se desestruturasse a uma nova consciência, a um desafio de limites tão grande que me tirasse aquilo que mais tenho, as palavras.
Pois.
Agora sim, faz sentido aquele " Cuidado com o que desejas."
Não consigo fugir porque pela primeira vez, observo a figura fascinante de um ponto de interrogação maior que o meu.



Algo me cola ao irresistível ímpeto de a querer fazer pensar...
Eu não paro muito para o fazer.
Só sei que e dizendo tudo ...


Ela dá me vontade de voltar a escrever.





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Sarah Moustafa

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