Presenças





Da varanda, entra a noite que se queda, o cigarro e a neblina que me alberga, vejo sempre as linhas difusas das cores fulgurantes que me revelaste.
Numa fonte, numa outra varanda iluminada, numa outra era, em que a leveza era o nosso poder de ser.
E os jactos de águas coloradas, transportadas das nossas almas quebradas, pacificaram-se por instantes...
A trégua de um abraço de uma noite cheia de dias e promessas, de um quotidiano onde nos tornamos viajantes...
A lua azul coberta de prata que jurámos diamantes.
O teu corpo deposto no meu conforto e a tua satisfação de me fazer sentir menina.
O meu corpo guardado no teu escombro morto e a minha glória de te trazer vida.
A paz da troca masculina encaixe perfeito da minha brecha feminina...
Agarrámos sedentos o mesmo ponto de luz, o mesmo momento, uma nova infância, um jubilo de fascínio, em ultima instância, como nos reluz.
As feridas onde liquefeita a sede nos amparava, nos saciava da vontade continuada..
Será?
Enfim tempo de um Verão que nenhum dos dois conhece?
A estação que algures nos desvanece, onde fica?
Na varanda, na fonte, no abraço...
Extinta no cigarro.
Fumo outro, quente agitado de uma breve sensação alienado, diabólico, o sorriso e o choro enclausurado,
Vejo-te na névoa, vês me tu a mim?


Sarah Moustafa

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