Declaração- V




Sei que nunca irás ler as letras que te escrevo no pensamento, porque é lá que elas te conversam e te dizem tudo, quanto a subjectividade da palavra pode albergar.
Tudo o que não verbalizo é dito, de uma forma egoísta, reconheço, de uma forma onde só eu encerre a verdade, a que não podes chegar.
Tenho conversas longas em fracções de segundos, e a expressão é linguagem anónima de termo prolixo, ininterrupto, mas sempre inacabado, com  algo mais acrescer na insustentável comunicação de , que sem permissão, fazes parte. 
Sempre, Tu.
O que isso dirá de mim?
Dirá provavelmente tudo o que sentes.
Dirá a contradição que nos afasta, as palavras silenciadas que o tempo arrasta, dirá a estranha beleza que existe em toda a tristeza, que aceitamos na segunda pele que nos assenta tão bem.
O que isso dirá de ti?
Tudo aquilo que eu sinto.
Talvez sejamos tão diferentes, que complementarmente, sejamos tão iguais.
Talvez, também sejas um egoísta que me leva no seu individualismo quieto, e me faz monarca da sua inconsciência.
O que será que me dizes?
Digo-te tudo o que não gostaria de dizer nem na mais intima sonoridade, falo-te, confesso-te dissonâncias que não sabia abrigar.
As conversas mudas que temos, conhecem-nos.
As conversas que as nossas vozes nunca dirão, já se proferiam antes de nos conhecermos.
Sei que nunca me irás ouvir e eu quase que te escuto, encostada a nossa mutua voz.

Quase...que te oiço quando quase...me ouves.


Sarah Moustafa


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