Diário dos Arruinados- XXI





Sou mais um demónio na Terra.
Sou mais um, daqueles que dá a mão, e a estende á sua palmatória.
Que a mesma bate e embate a cada gesto furtivo, movido a maldade.
Sou bandido que faz do mal a sua oratória.
Sou mau e não o nego. Tenho até alturas, em que essa maleficência venero.
Abro feridas propositadamente, sem razão qualquer, que a deflação de um certo tipo de dor ao prazer me dá, a sério, demoradamente observar.
Antever o aperto e o sufoco de uma dor que se exterioriza aos olhos do seu mestre.
O pesar é reflexo desse poder, que alma me emprega, tragos de sadismo, estupros de sentimentalismo.
A Dor é gémea do Amor.
Governa-se como a ovelha negra da família, quase defunta, esfomeada de momentos intensos, salgados de sabor, ao qual água alguma, chega e sacia, o leito e rio em permanente seca.
A marca que deixo é marca de brasão em chamas, enterradas na pele á força, que queimo repetidamente.
E o cheiro de carne queimada precipita a excitação.
É inato. Puramente Impuro.
Não renego a minha natureza. Sou o que sou. Sei o que faço aqui.
Venho a este mundo, dar o prazer da felicidade.
Sim a infeliz que se opõe perfeitamente á minha medida.
A irmandade dividida na unificação.
Onde há a minha dor, há por igual todo o meu amor.
Onde vive a minha mágoa, vive também o sentido da sua alma.
Onde correm fracções de Lágrimas, incorre o diluvio de dádivas.
Os demónios não são dignificados na beatificação, mas são eles que a clarificam, naquilo a que esta humanidade concedem.
 Sabor.
Os santos são pecadores, e pecadores santos dos mesmos valores.
Sou mais um Demónio e Anjo na Terra, vestido da profundidade e verdade bruta onde se eleva.

Sarah Moustafa

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares